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Escrever aqui ficou pesado.


Leio os posts antigos com nostalgia. Não do tempo que passou - esse eu sei que passa mesmo -, mas da leveza que eu tinha ao escrever. Hoje acumulo dezenas de textos salvos nos rascunhos: todos longos demais, confusos demais, complexos demais.


E, por muito tempo, questionei o que estava acontecendo: será que desaprendi a escrever?


Hoje vejo que, se os textos estavam pesados e confusos, era porque eu estava pesada e confusa. Escrever sempre foi uma terapia para mim. Colocar em palavras me ajuda a analisar o que estou vivendo e processar o que estou sentindo - e assim tornar a vida um pouco mais objetiva, um pouco mais ordenada e um pouco mais leve.


Mas como fazer isso quando parecia impossível dar sentido ao que passava aqui dentro? Quando me sentia num poço de contradição, numa montanha-russa de sentimentos, num emaranhado de pensamentos? Quando sentar pra escrever era como mergulhar ainda mais fundo, num lago lodoso, que me prendia lá embaixo, sozinha comigo mesma?


E assim abandonei cada texto com uma profunda angústia no coração - sem tempo, energia e capacidade para terminar. Nenhuma combinação de palavras parecia dar conta da complexidade que vivia em mim naquele momento. Escrever é um exercício de se encarar de frente e eu não me sentia apta para isso.


Mas eis que, aqui estou eu, reemergindo mais uma vez.


Agora já entendi que viver é um eterno mergulhar e emergir - e que, a cada subida, voltamos diferentes. Esse mergulho, da virada dos 30 anos, foi o meu mais profundo até agora. Mas fico feliz que hoje a vida não me pareça mais tão confusa e pesada. Que hoje a vida me pareça leve outra vez.


Sei que a leveza que sinto agora é bem diferente da que sentia quando comecei esse blog. Talvez, seja ainda melhor. Porque a leveza de agora tem gostinho de conquista - e é resultado de um trabalho árduo, mas muito recompensador: o trabalho de me tornar quem eu sou.


Só desejo conseguir carregar um pouquinho dessa leveza comigo no próximo mergulho.

Porque eu sei que ele virá - mas também sei que me encontrará um tanto mais preparada.

Não preciso de desculpas pra fazer mingau – é uma das minhas comidas preferidas desde criança -, mas que um friozinho estimula, isso é verdade! E é por isso que, nessas tardes de outono, essa receita tem sido frequente aqui em casa. Ela é simples, saborosa e aconchegante como um abraço.

Mingau de aveia de outono (rende uma porção bem servida)


1/3 de xícara de aveia

1 xícara de água

1 banana madura cortada em rodelas

1 colher de sopa de uva passa (se quiser mais doce, pode adicionar melado ou açúcar mascavo)

2 colheres de sopa de sementes ou castanhas (pode ser semente de abóbora e semente de girassol)

1 colher de chá de óleo de coco

1 colher de chá de cacau

1/2 colher de chá de canela

1/4 colher de chá de gengibre em pó

uma pitada de sal


– Em uma tigela, hidrate a aveia na água quente (esse passo não é essencial, mas eu consigo digerir a aveia muito melhor quando hidrato antes) – Em uma panela pequena, toste as sementes – em fogo baixo! – até começar a exalar um cheiro gostoso. – Acrescente o óleo de coco, a banana e a uva passa e mexa até a banana caramelizar. – Acrescente a aveia hidratada, o cacau, a canela, o gengibre em pó e o sal. – Mexa por cerca de 2 minutos, até atingir a consistência de um brigadeiro. – Sirva com frutas da estação, pasta de amendoim e adoce com mel ou melado se achar necessário.

Sentada no carro, na volta de um almoço de família, olhei pro horizonte e me imaginei vestida de noiva. Noiva? É isso mesmo? Justo eu, que nunca sonhei em casar e que já me considerava casada?


Coloquei a ideia de lado, mas ela insistia em voltar – e eu insistia em a reprimir: “Iana, você e o Dudu estão juntos há anos, dividem a mesma casa e têm chão pra limpar, cachorro pra cuidar e contas pra pagar. Pra que casar?”. Mas não adiantava. Semanas passaram e a ideia de celebrar o amor era cada vez mais forte.


Até que um dia ela escapuliu: “Dudu, e se a gente casasse?”.


Não me surpreendi com o olhar de espanto que ganhei em retorno. Também já esperava as perguntas que vieram a seguir: “mas a gente não é casado?”, “mas você quer casar?”, “mas pra que casar?”. Apesar de já ter me feito esses questionamentos inúmeras vezes, só consegui responder: “não sei…”.


E eu realmente não sabia. Estava tudo ótimo do jeito que estava. Não existiam questões burocráticas que justificassem um casamento, nossas famílias nunca nos pressionaram e não pertencíamos a nenhuma religião. Na prática, casar não mudaria absolutamente nada – mas havia uma vontade difícil de ignorar.


Nos próximos meses, conversamos sobre a nossa relação, responsabilidades, planos e parceria. Às vezes, eu tinha certeza que queria casar e acusava o Dudu de não querer – às vezes, ele queria e se confundia por eu não querer mais. A cada conversa, a gente se entendia e se desentendia – e nos fortalecíamos como casal.


Concluímos que casar só faria sentido se representasse algo além do âmbito religioso, social e jurídico – algo de um nível mais sutil. Concordamos que um casamento seria, sim, importante para nos fortalecermos como família. Casar significaria a consagração dessa união que construímos com tanto cuidado, carinho e dedicação.


Olhando para trás, não consigo apontar o momento em que dissemos “sim” um ao outro. Foi um processo conquistado por nós dois. Por um tempo, achei que a forma como decidimos casar desqualificava nosso casamento – “se está sendo tão difícil, será que é um sinal para não ser?”. Hoje vejo a beleza e importância de termos vivido essa experiência juntos.


No fim das contas, decidir casar foi bem menos romântico, espontâneo e simples do que eu imaginava. Não teve pedido de joelhos, anel de noivado ou champanhe. Não foi mágico, não foi de cena de filme, nem certeza divina. Mas envolveu muita transformação e amadurecimento – e, o principal, muito amor.


( aquela foto lá em cima foi a que tiramos pro nosso convite de casamento ❤ )

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