27 de outubro de 2016
O taxista falava sem parar no caminho pro aeroporto. Agradeci ao Dudu por dar trela – minha cabeça estava ocupada com o que deixava para trás: a obra da nossa casa, as cachorrinhas, minhas irmãs. Acostumada a estar no controle, questionei se era um bom momento para viajar.
Mas, por maiores que fossem as responsabilidades inacabadas, maior era o preço que eu pagava por elas. Há meses minha saúde pedia socorro, com sinusites e infecções urinárias recorrentes. Desesperada, aceitei emendar cartelas de antibióticos que me deixavam enjoada, sem energia e ainda mais doente…
Sabia que a solução era me afastar, distribuir o peso que carregava e confiar que tudo ficaria bem. A toda hora, me imaginava na Bahia, na sombra de um coqueiro – sem dores, frio na barriga e coração acelerado. Sabia que essa imagem, mais que um desejo, era uma certeza. Eu tinha que ir.
Desde julho, meus pais estavam morando em Barra Grande, onde davam aula em uma escola Waldorf comunitária. O Jardim do Cajueiro atende mais de 100 crianças – a maioria passa horas em um ônibus com buracos no chão só para estar ali… Apesar de atrair milhares de turistas, há muita pobreza naquele pedaço de paraíso.
Barra Grande é uma pequena vila no litoral baiano, com ruas de areia e pessoas simpáticas e amorosas. Na primeira semana, eu e Dudu nos engajamos em desbravar as praias, piscinas naturais, restaurantes e ilhas. Dia após dia, acordamos cada vez mais relaxados e felizes. Planejamos como seria morar ali e fazer da leveza a regra, não a exceção.
O Dudu voltou pra Floripa e eu fiquei mais. Sem saber o que fazer, fui pra escola com meus pais. Passei a manhã por lá e, quando acabou, tinha sido fisgada. Não entendi bem o porquê, mas senti vibrar cada pedacinho do meu corpo. Seria a animação das crianças, a energia da escola ou o entusiasmo dos meus pais? Minha única certeza era que voltaria no dia seguinte. E voltei. Não só naquele, mas em todos até minha partida.
Me acostumei à nova rotina com facilidade. De manhã íamos os três pra escola, almoçávamos em casa, saíamos para caminhar na praia, mergulhávamos nas piscinas naturais e assistíamos à lua nascer no mar. De noite íamos pro centrinho comer tapioca ou pastel e encontrar amigos queridos.
Quando chegou a hora de ir embora, mal reconhecia a Iana que havia chegado ali: tão fraca, assustada e desempolgada. As paisagens maravilhosas e os sorrisos das crianças foram meu combustível. Durante três semanas, vivi uma vida extremamente simples, mas tão cheia de propósito e alegria.
Foi difícil dizer adeus aos meus pais. Olhava para eles no píer e meu coração explodia de orgulho. Eles sempre foram pais maravilhosos e fico muito feliz que outras crianças tenham a oportunidade de aprender com eles também. Entrei na lancha e as lágrimas caíram pesadas. De gratidão, saudades antecipadas e muito amor.
Meus pais e a fantástica turma do quarto ano:
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