(algum dia de janeiro de 2009 – Colorado, EUA)
05h08 o despertador tocou. Lá fora tudo era escuro, silêncio e muita neve. O que aconteceria na próxima hora já estava tão automático que ela poderia fazer ainda dormindo.
Tirou o pijama e entrou no banho. Lavou os cabelos e depois secou. Vestiu as meias, a meia-calça, a calça térmica, a blusa térmica, um suéter de lã e a camisa do uniforme. Calçou as pantufas e foi pra cozinha.
Os outros 7 habitantes da casa ainda dormiriam por mais pelo ao menos 2 horas…
Ligou a cafeteira e esquentou o leite. Preparou um oatmeal e duas torradas com manteiga, queijo e mel. A fome que ela sentia por lá era inexplicável. O que, por sua vez, explicava os 6 kilos ganhos em menos de 2 meses…
Lavou a louça e voltou pro quarto. Escovou os dentes e vestiu mais uma calça e mais um casaco. Calçou as botas e pegou a bolsa.
Deu um beijo no namorado – que dormia profundamente do outro lado da cama. Ele acordou o suficiente só para resmungar algo parecido com “bom dia, amor”. Há 4 horas atrás, foi a vez dele chegar do trabalho e ela acordar o suficiente só para resmungar algo parecido com “boa noite, amor”.
Antes de sair, vestiu mais o casaco impermeável, o cachecol, o gorro, o chapéu e dois pares de luvas.
Seus pés afundavam na neve enquanto caminhava – era muito cedo e o snowcat ainda não havia passado limpando as calçadas. A altitude de 3 mil metros a fazia ofegar como se estivesse correndo uma maratona; e, aos poucos, as únicas partes descobertas de seu corpo começaram a formigar.
Chegou no ponto às 06h08 e chorou. Dessa vez não foi de saudades. Era o frio que fazia as lágrimas escorrerem, gelando suas bochechas.
Entrou no ônibus já lotado de mexicanos – que dormiam feitos galinhas empoleiradas. Enxugou o rosto e sorriu. Essa com certeza estava sendo a experiência mais diferente de sua vida. E era exatamente isso que ela queria.
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