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Meu pé esquerdo

Os sapos coaxavam como de costume – a sinfonia começava todos os dias ao entardecer. O calor excessivo transformou-se em chuva, fazendo daquela noite a mais agradável do verão. Tudo estava tranquilo na casa de praia da família Dias da Cruz.

Pulando de pedra em pedra, com os pés descalços, a menina atravessou o jardim em direção à casa dos fundos. Os primos ficaram na sala assistindo a um filme. Mas para ela, a verdadeira diversão estava lá atrás – onde os adultos conversavam animadamente.

Mal teve tempo de se inteirar do assunto e o telefone tocou. Saltitante, correu até o aparelho e atendeu: era pro avô.

-Paaaai – gritou – o tio Luís que falar com o vovôôô.

-Ele tá na casa da frente. Vamos lá chamar? Você pode ser meu guarda-chuva, que tal?

Animada com a ideia, a menina pegou distância, correu e pulou nas mãos do pai – que a ergueu em cima de sua cabeça. O impulso, porém, foi forte demais. As perninhas não pararam de subir e bateram no ventilador de teto – que se estraçalhou pela cozinha.

O resultado foi um corte no pé. As lágrimas escorriam enquanto a menina olhava pro machucado sujo de sangue. Uma rodinha se formou em volta, todos tentando amenizar a situação.

De canto, a vó olhou para a tia e comentou com ares de sabedoria:

-Vai é ficar uma bela cicatriz…

E ela tinha razão. A prova está, há 18 anos, no meu pé esquerdo.

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