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a minha partida










Há alguns meses, minha família resolveu ficar na Inglaterra mais tempo que o planejado – e eu sabia que era a minha hora de partir. Por mais incrível que estivesse sendo morar em outro país com pessoas que tanto amo, um pedaço do meu coração estava no Brasil. E era pra ele que eu queria voltar.

Não foi difícil decidir – difícil foi aceitar minha própria decisão. Tinha medo de sentir muitas saudades dos meus pais e das minhas irmãs, de perder momentos importantes, de ser uma mudança drástica demais. Me sentia culpada por não ficar até o fim – afinal, embarcamos juntos nessa. Mas eu precisava seguir meu caminho.

Depois de remarcada a passagem, os dias passaram voando. Viajei pra Escócia com a Alice, terminei meu curso, mudamos de cidade. Cada momento ficou ainda mais valioso, porque tinha data pra terminar. Listei tudo o que gostaria de fazer na Inglaterra antes de ir embora. Queria ter a certeza de que aproveitei ao máximo aquela experiência.

Chegou o dia em que não precisei do calendário pra saber quanto faltava até a partida. Meu coração doeu só de me imaginar no avião e ficou impossível conter as lágrimas. Elas vinham no banho, no carro, tomando café da manhã ou antes de dormir. Os outros membros da família também não conseguiam esconder a apreensão. Me abraçavam forte sem motivo aparente e nunca me deixavam sozinha. Às vezes eu queria que eles fossem um pouquinho mais chatos, só pra tornar menos dolorosa a despedida.

Dois dias antes da viagem, enquanto arrumava as malas, senti uma vontade súbita de estar com os meus pais. Fui até o quarto deles, deitei na cama entre os dois e chorei. “Quero muito ir, mas é tão difícil deixar vocês…” – disse. Naquela noite, coloquei pra fora todos meus medos e anseios e em troca recebi palavras de sabedoria e carinho. Dormi tranquila sabendo que estava indo, mas sempre teria pra onde voltar.

No aeroporto, abracei e beijei cada um diversas vezes – todos com os rostos molhados de lágrimas. Por alguns segundos, cogitei simplesmente ficar e não lidar com a dor de partir. Foi difícil lembrar dos motivos que me levavam pra longe da minha família. Repetia pra mim mesma que era o que eu queria e que não ia me arrepender. Eu precisava ser forte.

“Eu amo vocês!” – gritei do portão de embarque. Eles acenaram de volta. Sabia que também me amavam. E que iam continuar me amando de longe, de perto, de onde quer que fosse. Enxuguei as lágrimas, respirei fundo e passei pelo raio X. “Eles vão ficar bem. Eles têm uns aos outros.” – pensei comigo mesma. “E eu vou ficar bem, pois tenho eles sempre no meu coração.”

Lembrei que logo seria recebida no Brasil pelo Dudu – e uma onda de calor tomou conta de mim. Estava deixando quatro amores pra reencontrar outro amor. Um amor que estava ansioso por crescer e pro qual eu estava ansiosa por voltar. Esse era só o começo de uma nova fase da minha vida. E eu mal podia esperar pra vivê-la.



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