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bahia


O despertador tocou às 4h da manhã. Gotas pesadas de chuva batiam na janela do quarto e o vento fazia um barulho assustador. Deitada na cama, abri os olhos e senti o medo correr pelo meu corpo. Essa não era a primeira vez que isso acontecia – tenho crises de ansiedade desde pequena -, mas com certeza era a mais forte.

Sentei na cama e tentei, em vão, organizar os pensamentos. Minhas mãos se fecharam e comecei a tremer. “Não quero ir. Não quero ir”, repetia em minha cabeça. Desabafei com o Dudu: “Du, tô com medo. Não sei se quero ir…”. “A gente vai sim”, respondeu ele enquanto fazia carinho nas minhas costas. “Vai lá tomar banho”.

Liguei o chuveiro e pensei que não precisava resolver nada agora, ainda teria tempo pra desistir da viagem. No caminho do aeroporto, listei todos os motivos pelos quais deveria ficar. Por mais que minha mente estivesse convencida, meu corpo parecia não obedecer: fiz check-in, passei pelo raio X e entrei no avião.

De repente, uma confiança colocou um sorriso em meu rosto. Era um sentimento quente e confortável, como um abraço. Me senti tão leve que poderia flutuar. “De onde vem isso?”, questionei. Logo soube que se tratava da minha intuição. Lá no fundo, algo me dizia que tudo ia ficar bem – o resto era só o medo tentando me convencer do contrário.

As portas fecharam. Olhei pro lado e vi o Dudu. Atrás dele, gotas batiam na janela do avião, mas já não me assustavam. Ele sorriu pra mim e eu senti profunda gratidão por tê-lo ao meu lado. Essa viagem era pra comemorar os nossos dez anos juntos. Entre tantos medos, veio uma certeza: é com ele que quero estar.

A Bahia não foi amor à primeira vista. O mar escuro, as praias cheias de algas e a vegetação seca eram estranhos aos nossos olhos. Mas logo cedemos aos encantos de lá. Enquanto caminhávamos na areia fofa, me senti acolhida por aquele lugar diferente. Talvez pelas pessoas que desejam “bom dia” enquanto passam, talvez pela brisa morna – só sei que a Bahia é especial.

Nos próximos dias, visitamos lugares incríveis, comemos deliciosamente bem e nos apaixonamos: um pelo outro, pela natureza e pela vida. Todos os anseios e inseguranças ficaram a quilômetros dali. A alegria era fácil e a paz era enorme, dentro e fora de nós. A Bahia me lembrou como é bom viver com leveza e me deu a chance de recomeçar.

Por meses, me senti vibrar numa estranha sintonia, como se ninguém conseguisse entender o que passava comigo. Viajar teve o efeito de apertar o botão reset: já não me sentia sozinha, eu era parte do mundo. Num fim de tarde, sentada num banco de praça, olhei ao redor com o coração aberto. Amei as árvores, o menino que brincava no chão, as senhoras que fofocavam na calçada. Tudo era perfeito do jeito que estava.

Desde que me dei conta do mal que a ansiedade faz, cada crise me torna ainda mais forte. Quando decidi que não deixaria mais meus medos definirem quem sou, aprendi que não tenho – e nem devo ter – o controle de tudo. Ao entregar a sorte pro universo, deixo a energia fluir e recebo surpresas em troca. A Bahia foi a melhor delas.














(fotos tiradas no mês de julho em Arraial d’Ajuda e Trancoso)

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