Uma vez me disseram que quando fazemos uma viagem longa, nosso espírito demora três dias pra chegar. No trajeto Inglaterra-Brasil, o meu demorou ainda mais. Durante uma semana, foi como se estivesse exausta da noite mal dormida no avião. Mas sabia que não era só isso. Sabia que o que estava sentindo era mais que falta de sono – era um vazio no coração.
Assim que cheguei, mudei com o Dudu pro apartamento de praia dos pais dele. Arrumamos a casa do nosso jeito e com as nossas coisas, exatamente como havíamos sonhado. O problema era que eu não me sentia ali. Ficar longe da minha família estava sendo mais difícil do que imaginei. Tentava não pensar no oceano entre nós, no tempo que demoraria pra vê-los outra vez e no quanto minha vida havia mudado. Ainda assim, a ideia de desfazer a mala me dava vontade de chorar.
Nos próximos dias, flutuei pelas horas e situações, respondendo apenas a demandas imediatas: o que comer, que horas acordar, o que vestir. Qualquer reflexão mais profunda me tirava o ar. Às vezes, quando estava especialmente distante, pedia desculpas ao Dudu – logo voltaria a ser eu mesma. Ele me olhava com carinho e dizia: “Eu sei, amor. Fica tranquila”.
Até que numa noite, enquanto rolava na cama acordada, o Dudu me puxou pra perto e eu me deixei levar. Aninhada em seus braços, me entreguei a um sono profundo. No dia seguinte, tirei as roupas da mala e arrumei-as no armário. Agora aquela era a minha casa. E eu estava preparada pra isso.
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