No fim de dezembro, eu e minhas irmãs embarcamos rumo ao Rio de Janeiro. Mais que férias, essa viagem tinha um significado especial: a Alice ansiava por relaxar de uma rotina puxada de faculdade e trabalho, a Nina precisava provar pra ela mesma a sua independência e eu esperava pôr fim a um ciclo de medos e ansiedades.
Já no aeroporto, fomos recebidas por um calor sufocante. Munidas de nossas malas, pegamos um ônibus com ar-condicionado pra Ipanema – onde passaríamos os próximos dias. O frescor e o conforto das poltronas fez com que eu e a Alice dormíssemos imediatamente. Já a Nina não tirava os olhos da janela e vibrava com cada novidade que avistava.
O Rio de Janeiro é um bonito caos, que pulsa com a vida da natureza e das pessoas. A energia do mar contagia a cidade e o povo é alegre, simpático e barulhento. Pra minha surpresa, fui chamada de “meu amor” por garçons e engatei uma conversa animada com uma desconhecida no supermercado.
Em Ipanema, já acordávamos atrasadas. Os barulhos lá fora nos lembravam que o tempo não espera por ninguém. Todas as manhãs, saíamos do hotel empolgadas com as aventuras que o dia reservava: mergulhos no mar, passeios de bicicleta, pôr do sol na praia. À noite, jantávamos em algum restaurante delicioso e caíamos exaustas na cama.
Em um sábado de muito calor, pegamos um ônibus lotado pra Vargem Grande – onde passaríamos alguns dias. Os prédios eram cada vez mais espaçados e a paisagem cada vez mais verde. De uma hora pra outra, nuvens cobriram as montanhas e uma chuva fina fez vapor sair do asfalto. Deixei a janela aberta e senti cada pingo refrescar minha alma.
A casa da tia Sil e do tio Marquinhos fica no meio do mato – uma das últimas de uma longa estradinha de terra. Por lá, os dias demoravam pra engrenar e o único som era o dos pássaros. Muitas vezes, adiávamos planos e passávamos o dia lendo um livro, tomando banho de ducha e degustando as delícias preparadas pela tia Sil na cozinha.
Tanta paz me fez perceber o quão conturbada eu estava por dentro. O tempo livre e o isolamento trouxeram à tona angústias que não pude ignorar: apesar do silêncio lá fora, elas gritavam dentro de mim. Quis sair, caminhar, ver pessoas, mas não adiantou. Logo percebi que não teria férias de mim mesma – o medo e ansiedade continuariam me consumindo enquanto permitisse.
A viagem terminou e voltei pra casa com uma certeza: chegou a hora. Durante os próximos meses, precisaria encontrar o que me deixava sempre a um passo da felicidade – e descobrir como me livrar daquele peso que carregava sem meu consentimento. Não seria uma tarefa fácil, mas eu estava pronta.
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