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de mudança (outra vez)

Tropeço no varal a caminho da janela – na ausência de lavanderia, as roupas secam no quarto, num espaço apertado entre a cama e o armário. Na cozinha, preparo o café em cima da máquina de lavar roupa e, no box, tomo banho rodeada de baldes, esponjas e panos de chão.


No meio da tarde, o sol que entra é tão forte que me pergunto se trabalhar em casa foi mesmo uma boa ideia. À noite, o cheiro de fritura do vizinho sobe pelo fosso e, de madrugada, rolo na cama insone pelo barulho da avenida. Mas nada é mais provocador que o forno – que apaga sozinho, destruindo receitas e testando nossa paciência.


Estamos de mudança, e, se um dia desejei sair desse apartamento, hoje só consigo pensar no quanto ele me fez feliz. Essa manhã me dei conta que nunca mais vou morar aqui e me arrependi de ter reclamado de problemas tão pequenos.


Peguei a câmera e registrei cada cantinho, enquanto chorava de culpa e saudades.

Aqui vivemos momentos maravilhosos, mas são os mais simples que não quero esquecer: o beijo que o Dudu me dá antes de ir trabalhar; as danças no meio da manhã com a Matilda; o almoço que cozinho sozinha, orgulhosa da minha evolução; os jantares que preparamos juntos, bebendo vinho e ouvindo música; o dia que termina com nós três dormindo no sofá.


Quando mudamos pra cá, apelidamos esse apartamento de ovinho, por ser todo branco e muito apertado. Hoje as paredes estão cheias de cores, e as lembranças são tantas que os cômodos parecem enormes. Sempre soubemos que seria temporário, mas é impossível não sentir a dor da despedida. Esse sempre será o nosso primeiro lar.

Adorei relembrar algumas das últimas mudanças: aqui, aqui, aqui e aqui.

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