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nossa vila

Quando a ideia surgiu, foi difícil apontar o autor – minha mãe comentou na mesma semana que eu e o Dudu conversamos sobre. Era basicamente essa: “que tal se morássemos na edícula da casa dos meus pais?”. Lá já tinha sido muitas coisas, – inclusive fábrica de biscoitos – mas, ultimamente, só servia pra acumular sujeira…

Logo de cara, me apaixonei pela possibilidade.


Há três anos eu e Dudu morávamos num apartamento pequeno, sem sacada e área de serviço – e com uma cachorrinha cheia de energia. Voltar para uma casa estava na minha lista de desejos mais desejados. Melhor ainda num lugar que amo e perto da minha família, com quem nos damos super bem.


Mas uma questão me perseguia: “será que devo voltar pra casa dos meus pais?”. Apesar de ser uma construção separada, com entrada independente, me perguntava o que esse retorno implicaria. Será que conseguiríamos estar perto sem tirar nossa liberdade? Será eu conseguiria me firmar como mulher sem escorregar pro papel de filha? Será que conseguiríamos estabelecer limites suaves e conviver como dois núcleos familiares distintos?


Mas, não importava o quanto eu questionasse, a imagem de morar naquela edícula enchia meu coração de alegria… Dois anos se passaram de conversas, sonhos e reflexões. Chegamos à conclusão que seria necessária uma adaptação de todos – mas que poderia ser uma experiência maravilhosa.


Até que, em 2016, meus pais decidiram reformar a casa da frente e aproveitamos para reformar a edícula também. O Dudu fez os projetos de arquitetura e pensamos em cada detalhe com muito amor e entusiasmo. Dormíamos e acordávamos falando sobre a nossa casinha – que já parecia pronta em nossos corações.


Mas na prática não foi bem assim: o que era para ser uma simples obra virou um obrão. Três meses se estenderam por um ano de muito barulho, sujeira, decisões, entra e sai de pedreiros e gastos intermináveis. Descobrimos que obras são assim mesmo, mas na hora eu só queria gritar “chega!” e mandar todo mundo embora.


Em julho fez dois anos que moramos aqui – e não passa um dia que eu não suspire de amor por essa casinha. Algumas vezes tive que pedir pros meus pais não gritarem meu nome lá da outra casa, ou aparecerem na janela de surpresa – e algumas vezes eles tiveram que nos pedir para catar os cocôs das cachorras na grama, ou lavar a lata de lixo que compartilhamos. Mas, muitas mais vezes, batemos papo no jardim, dividimos uma refeição, trocamos favores, comidas, sorrisos e delicadezas.


Morar perto é sim um desafio, mas daqueles bons de se superar.

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