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Assim que nos mudamos, a Nina começou aulas de dança aqui perto de casa. Coincidentemente, a professora era nossa vizinha e fazia balé comigo na universidade. Ela me convidou pra participar de um grupo que treinava sexta-feira à noite. Era pura diversão. Fazíamos uns 15 minutos de aula e depois ensaiávamos. Sem perfeccionismo, sem cobrança, sem preocupações – dançar pelo simples prazer de dançar.

Sábado nos apresentamos com o resto da escola de dança. Às nove da manhã foi o ensaio de palco, às 16h, a primeira apresentação e às 19h, a segunda. Ainda não tinha me recuperado de uma virose insistente, mas o clima estava tão descontraído que nem fiquei cansada. A melhor parte foi ter vivido essa experiência com a minha irmãzinha – poder vê-la apreensiva antes de entrar no palco e sorrindo orgulhosa na saída. 

A julgar pela última foto, acho que é hora de parar de chamá-la de irmãzinha, né?


Na escola da Nina, tem uma brincadeira que funciona assim: o professor faz uma pergunta, quem responder “sim”, fica em pé, caso contrário, permanece sentado. Na vez do “você está usando duas meias do mesmo par?”, só a Nina ficou em pé.

Esses dias, uma senhora me falou que acha o povo inglês o mais mal vestido do planeta. Talvez seja exagero, mas, realmente, se comparados aos franceses e espanhóis, os ingleses não tem um senso de moda lá muito apurado. Não vejo isso como algo negativo. Pelo contrário – acho que temos muito que aprender com eles.

Eu definiria o estilo inglês como prático e funcional. Se tá frio, vestem luvas, gorro e cachecol. Se tá chuva, capa de chuva e galocha. Se andam de bicicleta, capacete e colete fluorescente. Se vão pro parque, um sapato velho que possa sujar.

Aqui, crianças usam roupas de criança – confortáveis e coloridas. É raro ver mulheres se equilibrando em cima de um salto e prendendo a respiração dentro de um vestido justo. A maioria das pessoas tem um casacão que é o mesmo pro inverno todo. E precisa de mais?

Entendo que é importante se sentir bonito e que a maneira como nos vestimos é também uma forma de se expressar. Mas isso não significa que precisamos seguir as últimas tendências, nem gastar rios de dinheiro só pra estar na moda. Afinal, meias servem pra esquentar os pés – tanto faz se são diferentes, ou do mesmo par.


Contei os dias pra chegada, mas fiz questão de não saber quantos faltavam pra partida. Aproveitei cada minuto como se estar junto fosse a regra e não a exceção. Com o Dudu por perto, sinto uma alegria que vem de dentro – capaz de transformar os momentos mais simples em especiais. Ando saltitando, canto no chuveiro e durmo um sono tranquilo.

Um dia percebemos que só nos restava uma semana. Os abraços ficaram mais apertados, os beijos mais apaixonados e os silêncios mais longos. A mala aberta no canto do quarto não me deixava esquecer que íamos nos separar mais uma vez. Me agarrei às roupas dele dobradas em cima da cama e chorei.

No caminho pro aeroporto, as lágrimas vinham sem que as chamasse. Como uma criança mimada, implorei: “Não vai, por favor, não vai…”. Mas ele foi. Tinha que ir. Nossos olhares se acompanharam até sumir pelo portão de embarque. E eu fiquei ali, sozinha, com um vazio enorme no coração. Às vezes é tão difícil lembrar do porquê da distância…

Naquela mesma noite, voltei pro quarto que dividimos durante dois meses e sabia que essa ia ser a pior parte – estar sem ele onde estivemos juntos. Dias depois, li escrito no banheiro do lugar que trabalho: “Não fiquei triste porque acabou, fique feliz porque aconteceu”. É, aconteceu. E foi um dos melhores acontecimentos da minha vida. 🙂

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