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morar junto

Você me dá boa noite e vai dormir. Eu demoro pra deitar e, quando levanto, você não está. Almoçamos conversando sobre os trabalhos da manhã e os planos da tarde. Assistimos à lua passar cada um no seu computador. As contas pra pagar, a roupa suja no cesto, o mofo no rejunte do banheiro – o maior desafio de morar junto é a distância entre nós dois.

Sem que percebamos, nosso pequeno apartamento cresce e os joelhos não se batem mais na cama apertada. Você sai pra andar de bicicleta e eu não faço questão de ir também. Eu assisto a um vídeo na internet e você não pergunta o que é. Se esticar o braço podemos nos tocar, mas isso não nos traz de volta. Estamos tão perto e tão longe.

O tempo passa e a angústia cresce: “será que nos perdemos?”. Mas a distância não é necessariamente ruim – ela dá espaço para amadurecer. Eu aprendo sobre mim e sobre quem quero ser. Aprendo que a vida são fases e a respeitar as minhas, as suas e as nossas. Aprendo a ter paciência, porque sei que logo vem a melhor parte: aquela em que me reapaixono por você.

Na sexta-feira de feriado, uma chuva nos induziu ao sofá – e não demorou para acontecer. Sabemos muito bem o caminho que leva a nós dois. Deito minha cabeça na curva do seu peito e sua mão descansa na minha cintura. Nossas pernas se entrelaçam, a gente se olha e sorri. Eu me vejo nos seus olhos – e sei que, mesmo longe, nunca saí dali.

De repente, tenho 17 anos outra vez. Meu coração acelera, os pelos arrepiam e a alegria parece não caber em mim. Os momentos simples se tornam os mais valiosos – nada é chato nem sem graça, desde que seja com você. Te acho a pessoa mais incrível do mundo e eu a mais sortuda por estar ao seu lado.

Há três anos dividimos o mesmo teto, dormimos na mesma cama e cozinhamos no mesmo fogão. E quando você me fala que “hoje foi tão bom, porque a gente ficou junto”, sei exatamente o que quer dizer: que estar próximo não significa estar junto, mas que juntos somos melhores – porque juntos somos completos.

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