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Eu já sonhei em ser astronauta, ter seis filhos e viajar o mundo. Sonhos de infância - que, com certeza, dizem muito de mim -, mas que logo viraram borboletas e saíram voando por aí.


Mas tem um sonho que ganhei já adulta, que brotou em meu coração e fincou raízes profundas: o sonho de morar pertinho do mar.


Por muito tempo, cultivei esse sonho com carinho e devoção - até que, há três anos, ele virou realidade.


Desde então, sempre que vou caminhando da minha casa até a praia, meu corpo vibra de alegria e minha alma repousa em paz.


Enquanto toco os pés na areia, ouço o barulho das ondas e vejo o horizonte mudar de cor, penso comigo mesma: como eu sabia que me faria tão bem morar pertinho do mar?


Acho que, na verdade, eu não sabia. Acho que, talvez, sonhos sabem mais sobre nós, que nós mesmos. E que, a nós, nos cabe ouvi-los, acolhe-los e, quem sabe um dia, realizá-los.


De qualquer forma, só agradeço por ter sonhado esse sonho tão singelo e grandioso - esse sonho que hoje tenho o imenso prazer e privilégio de realizar. ✨✨✨






Era dezembro de 2021 e resolvi presentear meus 12 alunos com ovelhinhas de feltro. Num domingo, fiz o molde, risquei e cortei o tecido. Nos próximos dias, depois de trabalhar horas na escola, na correria de fim de ano, fiquei até tarde costurando - com os olhos ardendo de sono e as mãos vacilando de cansaço.


Mas persisti: a cada noite costurava mais um pouquinho (e de pouquinho em pouquinho, ainda faltava muito pra terminar…). Até que furei o dedo com a agulha pela centésima vez e entendi o recado: "não aguento mais!".


Num impulso, guardei tudo e escondi as ovelhinhas inacabadas numa cesta embaixo da estante - onde não precisaria encarar meu fracasso. Mas, vira e mexe, lembrava de quando me disseram que não faz bem ter projetos inacabados - e as ovelhinhas me assombravam…

Um ano depois, arrumando a tal estante, me deparei com a cesta e decidi colocar um ponto final no mau agouro. Mas não, não decidi terminar as ovelhinhas, mas sim fazer as pazes com a sua incompletude.


Percebi que, talvez, o mal que um projeto inacabado faça seja diretamente proporcional ao quão mal nos sentimos em relação a ele. Nem sempre, não terminar um projeto significa que me falte determinação ou força de vontade. Talvez só signifique que estou fazendo os projetos errados - ou em momentos errados.


E se não terminei algo porque coloquei minha saúde e sanidade em primeiro lugar, que bom pra mim! E não só pra mim: tenho certeza que meus alunos preferiram uma professora feliz, presente e descansada que uma ovelhinha de feltro…


O fato é que semana passada fui convidada pra um aniversário de 1 aninho - e, enquanto pensava no presente, lembrei das ovelhinhas! Peguei uma na cesta e finalizei com alegria e leveza. E estou em paz com as outras 11 ovelhinhas inacabadas. Talvez um dia chegue a hora delas também. Ou não, né? E tudo bem! ♥️


Ps. Em vez de presentear as crianças com as ovelhinhas, resolvi que faríamos biscoitos de Natal para levarem pra casa. Nem preciso dizer que elas amaram! E ainda participaram de todo processo - inclusive comendo muita massa crua… 😬 (fiz a massa sem ovo justamente porque sabia que eles iam comer 😂).









Na nossa quarentena, teve tristeza, indignação, medo e raiva - não é nada fácil assistir a tudo que acontece lá fora nesse momento...


Na nossa quarentena, também teve vontade de sair correndo, de gritar e de fingir que era só um pesadelo - porque também não é nada fácil lidar com tudo que acontece dentro de nós nesse momento...


Mas, na nossa quarentena, também teve tudo isso das fotos - e muito mais! Teve acolhimento, calma, risada, parceria... Trabalhamos muito, cozinhamos muito, curtimos muito e amamos muito.


E que sempre tenha amor, né?
















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