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Em dezembro de 2024, eu e minhas duas irmãs pegamos um avião rumo ao Chile. Lá encontramos nossos pais, que estavam viajando há 50 dias de carro: saíram de Florianópolis, passaram pelo Ushuaia, subiram pela Carretera Austral até chegar na Região dos Lagos, no sul do Chile. Essa aventura foi muito sonhada e planejada por eles e fazer parte desse sonho tornou o encontro ainda mais especial.


Depois de muitos beijos e abraços, entramos no carro num friozinho de 10 graus e fomos pro Airbnb em Puerto Varas, uma cidadezinha muito charmosa na beira de um lago e aos pés de um vulcão. O apartamento era novinho e aconchegante e tinha uma vista incrível: de lá dava pra ver não só um, mas três vulcões! Eu nunca tinha visto um vulcão e eles são totalmente hipnotizantes.


Nos próximos dias, exploramos as inúmeras belezas da região, provamos comidinhas gostosas, celebramos o aniversário da minha mãe, fizemos compras no supermercado, cozinhamos salmão no apartamento, carregamos nosso piquenique para lugares incríveis, recebemos amigos brasileiros para jantar e admiramos - muito! - os vulcões.


Sempre que viajamos nós cinco, algo meio mágico acontece. Apesar de fazer 12 anos que saí de casa, quando viajamos juntos é como se nunca tivesse saído. Instantaneamente, entrarmos num esquema tão familiar: a enrolação de manhã, as gracinhas do meu pai, as cantorias da minha mãe, o aperto no banco de trás, o mau humor de fome, a irritação de cansaço, as risadas, os carinhos, as conversas...


Nunca é perfeito - como nada na vida é - mas é sempre muito gostoso, divertido, leve e alegre. E o principal: a gente ama estar juntos! Sempre me sinto muito sortuda de gostar tanto da companhia da minha família. Aliás, quanto mais os anos passam, mais sinto que reconhecemos o quão valioso é que o temos ali - o quão valioso é aquilo que construímos com base em muito respeito, união e amor.






 
  • 22 de mai.


Passei a noite dentro de um avião cruzando o globo do hemisfério norte ao hemisfério sul. Agora seriam nove horas de espera no aeroporto de Santiago, no Chile, antes de pegar meu próximo voo até Florianópolis.


Eu nunca havia estado no Chile antes e, apesar de estar super cansada e com dor de cabeça de tanto chorar, não podia desperdiçar a oportunidade de conhecer um pouquinho do país. Peguei minha mochila, esperei quase uma hora na fila da imigração e engasguei na hora de pedir orientações em espanhol.


Aliás, aquilo era mesmo espanhol? Eu não estava entendendo praticamente nada que eles falavam. De qualquer forma, consegui pegar um ônibus do aeroporto até a estação de metrô mais próxima, onde aproveitei pra tomar café da manhã.


Segui de metrô até o centro. A cidade era linda, mas era domingo e estava tudo fechado. Pelas ruas tinham multidões de ciclistas e corredores. Eram tantos que até achei que tava rolando uma maratona, mas depois entendi que chilenos são bem ativos!


Fui seguindo eles até as margens de um rio que corta a cidade e fiquei por ali caminhando lentamente - talvez lentamente demais, pois mais de um ciclista buzinou pra eu sair da frente...


Eu realmente estava exausta, mas queria muito avistar a cordilheira dos Andes antes de ir embora. Caminhei até um shopping e subi até o andar mais alto. E lá estava ela! A majestosa montanha nevada! Me dei por satisfeita e fiz o caminho de volta até o aeroporto.


No avião, me forcei a ficar acordada até sobrevoarmos a cordilheira (já tinha visto ela debaixo, agora queria ver de cima). Foi uma visão de tirar o fôlego... Adormeci com um sorriso no rosto e o coração transbordando de gratidão.

 


Chegou o dia de ir embora...


Na noite anterior, estávamos no carro e eu disse, com um nó na garganta: "não queria que fosse a última vez que a gente volta". A frase saiu estranha, mas eu quis dizer que não queria que aquela fosse a última vez que voltávamos pra casa em que estávamos hospedados depois de um dia tão gostoso.


Olhei pro Dudu e comecei a chorar. Já fazia algum tempo que vínhamos dizendo que não queríamos que a viagem acabasse... Mas ali foi quando a ficha caiu que a viagem ia acabar. Aliás, ela já estava acabando...


Mesmo assim, as lágrimas me surpreenderam. Essa não tinha sido uma viagem super sonhada e esperada, pelo contrário, até os primeiros dias, ainda me questionava se não devíamos ter economizado o dinheiro pra ir pra outro lugar. Porém não tinha como negar que essa tinha sido a viagem que mais amei fazer.


Um pouco com certeza pelo lugar: a gente se identificou muito com o estilo de vida da Califórnia. Um pouco também pelas pessoas que encontramos pelo caminho - que nos acolheram de braços abertos e sorriso no rosto. Mas, com certeza, muito por causa de nós dois.


Sinto que nossas almas ansiavam por aquela aventura: por ver coisas diferentes e se encantar novamente pelo mundo. E sinto que estávamos num momento muito bom, como casal e como pessoas, para conseguirmos estar unidos, presentes e aproveitando cada segundo.


No dia da partida, já acordei chorando. Fomos tomar café da manhã no pier e eu mastiguei chorando. Arrumei as malas chorando e me despedi do Dudu chorando. O Dudu ainda teria mais alguns dias por lá, agora a trabalho. Já eu, voltaria sozinha pro Brasil, pro meu trabalho.


Como eu tinha uma missão a cumprir, parei de chorar e dirigi por 1h30 até Los Angeles. Devolvi o carro na locadora, peguei um ônibus até o aeroporto, entrei na sala de embarque, comprei algo para comer e sentei pra esperar meu voo. Com a missão cumprida, voltei a chorar e só parei quando dormi no avião.


Nem eu estava entendendo direito o que se passava dentro de mim. Não era um choro de tristeza, mas também não era de alegria. A única certeza que eu tinha é que aquela viagem tinha me transformado de formas que ainda não compreendia - e sinto que só no futuro saberei dizer como e porquê.




 
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