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  • 16 de out. de 2015

A 20 minutos dos 28 anos, sento no jardim da casa dos meus pais e encaro o céu nublado. Minha irmã havia pedido que dormisse lá para cantarmos parabéns logo cedo – uma tradição de família. No andar de cima todos estavam deitados, mas uma inquietude me chamou pro lado de fora.

As nuvens baixas refletiam as luzes da cidade, pintando o céu de cor de laranja, e o vento era morno, como o que vem do mar num fim de tarde de verão. Olho em volta à procura do que me trouxe até ali. As árvores balançando, a luz do vizinho acesa, a grama molhada – não me diziam nada.

Ainda inquieta, cogito voltar pra cama, quando eles me vêm à cabeça: minha mãe e meu pai.

Em 11 de outubro de 1987, eu nasci – e eles nasceram “pais”. Nem consigo imaginar o quanto a vida deles mudou naquele dia: eles me deram a vida e assistiram à sua se transformar. Abraçaram de corpo e alma a tarefa de me amar e me cuidar. Todos os dias e para sempre.

Ainda hoje, eles são a voz que me acalma, o abraço que me cura e a presença que me dá a coragem de ser quem sou. Meu corpo tremeu diante da força de tudo que fizeram, e fazem, por mim. Devo a eles a felicidade pura da infância, o gostinho de liberdade da adolescência e o prazer de me tornar adulta. Sem meus pais eu não estaria aqui.

Minha mãe diz que sempre vai me amar mais do que amo ela e, pela primeira vez, eu acreditei. O que sinto por eles ele é imenso, mas naquele momento entendi que nada se compara ao sentimento de um pai por um filho. Questionei o que fiz pra merecer tamanho amor e dedicação – e chorei lágrimas de gratidão.

E então, ao lado dos meus pais, estavam minhas irmãs. Sorri com ternura e as agradeci por terem escolhido a nossa família: a família em que eu seria sua irmã mais velha. Agradeci por estarem ao meu lado e por serem muito mais que irmãs – serem minhas melhores e eternas amigas.

Ainda chorando, agradeci ao Dudu por ter me encontrado e por ter se entregado de maneira que nossa conexão fosse tão forte. Agradeci por simplesmente compartilhar sua vida comigo e receber a minha em troca. Por último, agradeci à Matilda – que lambia as lágrimas da minha perna – por me trazer tanta alegria.

Uma chuva fina começou a cair e eu abri os braços para o céu. O relógio marcava meia noite e eu tinha oficialmente 28 anos. O recado estava dado: eles são o presente que a vida me deu. O maior, o melhor e o mais verdadeiro.

 
  • 8 de out. de 2015

Depois de três horas sacolejando, nosso ônibus chega à beira de um rio. Assim que descemos, começa a chover e a poeira da estrada sobe por nossas pernas. Corremos pro barquinho que nos levará ao outro lado. Para cá, vêm crianças de uniforme e mochilas; para lá, vão turistas carregados de malas.

Caraíva é uma pontinha de terra espremida entre uma reserva indígena, um rio e o mar. Ali só se chega de barco. Não há carros, nem motos, nem sinal de celular. São apenas dez ruas, todas de areia fofa. As pousadas são simples, o comércio é simples, as pessoas são simples – mas com um coração enorme.

No dia seguinte, acordamos cedo e saímos para passear. Caminhamos até uma praia cor-de-rosa, remamos de stand up paddle, subimos o rio de caiaque e descemos de boia. Almoçamos pastel de camarão com cerveja – seguidos de um cochilo na areia. À tarde nadamos no canal da barra e à noite jantamos num restaurante delicioso.

De volta à pousada, deitei na cama e encarei o teto escuro. O barulho das ondas preencheu o quarto e ecoou em meus ouvidos. Senti a alegria presente em cada célula do meu corpo. Tentei decifrar o que tinha feito daquele dia tão especial – mas, antes que chegasse a uma conclusão, o cansaço me roubou pros meus sonhos.

Acordei determinada a não ir embora. Nem precisei convencer o Dudu, Caraíva já tinha conquistado ele também. Juntamos nossos trocados para pagar mais uma diária (o próximo caixa eletrônico está a quilômetros dali e quase ninguém aceita cartão) e saímos correndo para repetir tudo que fizemos no dia anterior.

Naquela tarde, enquanto caminhávamos ao pôr do sol, conversamos sobre nós dois. Nas últimas semanas, nossa relação tinha sido desgastada pela falta de tempo e excesso de preocupação. A rotina cresceu entre a gente, nos tornando distantes e inacessíveis. Caraíva diluiu o que nos separava e nos trouxe mais próximos que nunca.

Faz três meses que voltamos, mas ainda suspiramos por aquele lugar. Lá percebemos que a vida pode ser muito simples, mesmo quando é complicada. Apesar do barulho, dos compromissos e do agito da cidade, sempre encontraremos um pedacinho de Caraíva dentro de nós – e ele se chama “paz”.

(Esse post é de uma viagem que eu e Dudu fizemos em julho pra Bahia. Aqui tem a primeira parte do relato)

 
  • 1 de out. de 2015

Essa semana uma chuva nos pegou desprevenidos. Em segundos, o dia virou noite e o céu desabou. Nos protegemos numa marquise, mas a trégua parecia distante. “Vamos correr?”, você sugeriu. Fui o mais rápido que pude, enquanto gotas pesadas ardiam em minha pele e o cabelo grudava na testa molhada.

Uma euforia tomou conta de mim e comecei a rir. Olhei pra trás e você sorria também. Passamos por pessoas em seus carros e guarda-chuvas – mas, naquele momento, éramos só nós dois no mundo: correndo e rindo. Mais pra frente, demos as mãos e seguimos andando devagar. Meu vestido pingava e meu corpo tremia, mas já não tinha pressa. Estava onde queria estar.

Com você, aprendi que mais importante que sermos um só é sermos dois caminhando lado a lado. Aprendi que é possível se apaixonar infinitas vezes pela mesma pessoa – e que, com o tempo, a paixão vem carregada de sentimentos ainda mais profundos, como admiração, respeito e gratidão. Aprendi também que o amor resiste a tempestades e calmarias – se nenhum desafio for maior que nossa vontade de ficar juntos.

Hoje faz dez anos que nos tornamos oficialmente companheiros. Nunca duvidei que chegaríamos até aqui, só não imaginava que chegaríamos tão fortes e em tamanha sintonia. Hoje tenho a serenidade de te amar todos os dias, de coração aberto, com a certeza que será eterno enquanto quisermos que seja – e por qualquer caminho que a vida nos levar.

 
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