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Quando a Alice me convidou pro jantar de Thanksgiving oferecido pela universidade aos estudantes internacionais, topei mais pelo jantar que pelo Thanksgiving. Achei uma ótima oportunidade de provar a típica comida inglesa – além de fish and chips…

Purê de batata, gravy, batata doce assada, couve de bruxelas, bacon e, é claro, peru. Estava uma delícia, mas todos brasileiros presentes concordaram que: faltava sal! O delírio da noite foi a tortinha de maça com creme. Ainda tenho sonhos com ela.

Me senti um pouco mal por não saber o significado da comemoração. Mas, aparentemente, ninguém ali estava muito por dentro. Uma estudante americana explicou que o Thanksgiving é mais importante nos Estados Unidos, e que, basicamente, é um dia de agradecer às coisas boas da vida.

Sei que tenho muito ao que ser grata, mas, naquela noite, só conseguia pensar em uma:

– Obrigada por existir, tortinha de maça! 🙂


A gripe que me pegou no sábado de manhã deu seus primeiros sinais minutos antes de irmos pro show. Nunca tinha ouvido falar em Matt Corby, mas a Alice conhecia todas as músicas e disse que era um estilo calminho. Logo me imaginei sentada numa poltrona, num pequeno teatro, balançando a cabeça ao som suave do violão. “Ah, posso fazer isso gripada. Sem problemas!”.

O show começava às seis da tarde, mas chegamos às cinco pra pegar um lugar na fila – na calçada. Fazia menos de 5°C, e, com a garganta já arranhando, me abriguei no Subway ao lado até os portões abrirem. Uma hora depois e nada. Enjoada do cheiro de sanduíche, fui perguntar o que estava acontecendo. “Só falta limpar a pista de dança” – me responderam.

Hein!? Pista de dança?

Na minha cabeça, saíram as poltronas e o ambiente acolhedor e entraram as luzes frenéticas e as pessoas suadas se esbarrando e derrubando cerveja. “Ai, será que tô bem o suficiente pra isso?”, pensei – quase amarelando.

Mas a realidade não foi nenhuma das duas. Realmente não havia onde sentar, mas tampouco haviam luzes e pessoas suadas. O show foi tão tranquilo que dormi durante as bandas de abertura. Não porque eram monótonas, mas a gripe tinha piorado e já não aguentava ficar muito tempo em pé. Era isso ou ir embora. E, como queria muito assistir ao Matt Corby, me agachei num cantinho e dormi profundamente – enquanto a Alice e minha mãe estavam grudadas no palco.

Assim que ele começou a tocar, soube que tinha valido a pena. Não entendo muito de música, mas a dele me deixou tão feliz e em paz que esqueci da gripe. Fiquei ali, admirada com o poder da arte em despertar sentimentos nas pessoas. Isso até a hora em que minha visão começou a embaçar e achei melhor sair pra dar uma volta. Minha mãe ficou tão preocupada com meu sumiço que até entrou no palco (por engano!) pra me procurar – causando um leve agito na plateia. Mães… 🙂





















Viajar duas horas de carro é fichinha pra um brasileiro, mas uma distância considerável nos padrões ingleses – levando em conta que a área da Inglaterra é menor que do Acre. Pra entrar no clima de se estar quase atravessando o país, vestimos roupas confortáveis e paramos na metade do caminho pra esticar as pernas, fazer xixi e tomar um café.

Chegamos em Birmingham meio-dia e almoçamos no hotel o lanche que trouxemos de casa. Comer fora aqui é caro e nem sempre bom. Sendo assim, quando possível, evitamos vagar pelas ruas atrás de um restaurante – principalmente de barriga vazia. Afinal, a fome é inimiga do bom humor.

Birmingham é a segunda maior cidade do Reino Unido, com mais de 1 milhão de habitantes. Não vi muita diferença de outras metrópoles: carros, avenidas, prédios e gente (muita gente!). À tarde passeamos pelo centro numa feira alemã de natal, como a de Bristol só que cinco vezes maior, e à noite fomos no show que a Alice tanto queria.

O tempo estava frio e chuvoso – o suficiente pra fortalecer a gripe que sondava a família. No sábado, a Nina acordou com o nariz entupido e eu com a garganta arranhando. Tentamos fingir que era só um resfriadinho, mas, no final da manhã, meus olhos pesavam e a Nina desfalecia pelos cantos. E foi assim que nossa viagem de dois dias virou de um dia só.

Voltamos pra Bristol na mesma tarde. No carro, dormi tão pesado que acordei com o pescoço todo dolorido e com a sensação de ter viajado o país inteiro. “Como é bom estar de volta!”, exclamou minha mãe assim que chegamos em casa – apenas um dia depois de termos saído. É, acho que não teremos dificuldade em nos adaptarmos aos padrões ingleses. 😉

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