A última vez que me importei tanto com um aniversário foi aos 10 anos – quando, finalmente, iria encher as duas mãos. A ansiedade de fazer 30 não era assim tão fácil de explicar, mas sentia que algo grande se aproximava. Parece que já me preparava para essa terceira década: com transformações profundas que, ironicamente, me levaram de volta para onde estive tempos atrás.
Na semana do meu aniversário, olhei pro espelho e me reconheci: “olha a Iana ali!”. Levei um susto com minha própria constatação. Mas a verdade é que, ultimamente, fui muitas Ianas e nenhuma também. Desde que fiz vestibular, e tive que escolher uma profissão, me esforço para me encontrar – e me perdi mais que nunca. Fazer 30 foi recuperar minha essência e voltar a trilhar meu caminho – com mais bagagem e sabedoria.
Dessa vez, o dia 11 de outubro caiu nas minhas férias. Tracei planos mirabolantes de festas e viagens, mas eu, que sempre fui libriana indecisa, de repente tive certeza do que queria fazer: ir para Ibiraquera com o Dudu. Relutei em aceitar – esse era justamente o plano mais simples e parecia não fazer jus à data especial. Até que, um dia antes, segui meu coração, reservei a pousada e lá fomos nós.
Nem dei chance pro Dudu opinar e decidi toda a programação sozinha. Acordei quando senti vontade, tomei café da manhã sem me importar pro quanto mastigo devagar e almoçamos num restaurante que só eu ia gostar. Remamos de standup na lagoa, caminhamos na praia, fiz aula de ioga e finalizei o dia com uma massagem. A previsão era de chuva – e choveu mesmo -, mas eu estava tão contente e plena que nada me abalava.
No dia seguinte, fomos passear na praia antes de partir. Estava uma neblina densa e o Dudu sugeriu que voltássemos, mas eu queria ir até a pontinha. Chegando lá, esperei o universo me mostrar porque, afinal, quis tanto ir para aquele lugar. Esperei, esperei e nada. Foi quando me dei conta do que já estava acontecendo: pela primeira vez em anos, eu estava ali, presente e completa – e isso era um grande acontecimento.
Aos 30 anos, parei de me procurar lá fora e me encontrei aqui dentro. Aprendi que individualismo e egoísmo são diferentes e que o primeiro me torna ainda mais inteira. Deixei de culpar e vangloriar os outros pelas minhas derrotas e conquistas e tive certeza que minha vida depende só de mim. Percebi que sou a única responsável pela minha felicidade e isso me fez sentir sozinha, mas muito bem acompanhada por mim mesma.
Aos 30 anos, tomei a vida nas próprias mãos e agora caminho firme com minhas próprias pernas – que me levam para onde meu coração mandar.