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Eram tantos carros no estacionamento que ficamos sem reação. A primeira a quebrar o silêncio foi a Nina: “Nossa, parece que a gente tá na Disney!”. E parecia mesmo.

O National Arboretum é um bosque – como centenas de outros pela Inglaterra. O motivo deste atrair tantas pessoas é uma tal de Japonese Maple – uma árvore cujas folhas verdes que se transformam nos mais lindos tons de vermelho, rosa, laranja e amarelo, até caírem por completo. Há 250 delas por lá. A explosão de cores acontece uma vez por ano, sempre no outono, assim que as temperaturas começam a baixar.

E bota baixar nisso. Vinha fazendo uma média de 12ºC pelas manhãs. Naquele dia, fez 3ºC. A primeira parte do passeio foi um pouco torturante – tinha esquecido de como era sentir as mãos congelarem. Mal olhei pras árvores, estava mais preocupada em correr pro sol. Na hora do almoço, comemos o picnic no carro e adicionamos mais umas camadas de roupa. Reabastecida e aquecida, saltitei pelo bosque, maravilhada com as cores.

No Arboretum, as árvores não me pareceram estar se preparando pro inverno, mas sim se despedindo do verão – como um último suspiro de leveza e alegria. Se o outono já tinha roubado meu coração, agora tenho a certeza de que veio pra ficar. 🙂
















Três semanas depois que cheguei à Inglaterra, o Dudu ficou sabendo que iria pra Madrid participar de um concurso de arquitetura. Não pensamos meia vez antes de comprar minha passagem pra lá também.  


Nos encontraríamos na estação de metrô – eu vindo de Bristol e ele do trabalho. Do aeroporto telefonei e pedi que me esperasse na plataforma, pra não haver desencontros. Quando desliguei, recebi uma mensagem avisando que estava sem créditos. Ele também estava. Mas tudo bem – pensei -, vai dar tudo certo. 


Ou não…


E se tiver mais de uma plataforma? E se ele vier de um lado e eu do outro? E se ele sair pra me procurar? Agora não tinha mais jeito. Estávamos incomunicáveis.


Já no metrô, tentei respirar fundo, mas a ansiedade não deixava. “Proxima estación: Puerta del Ángel” – era agora! Peguei o mochilão e me posicionei bem em frente à porta. Meu coração disparou e meu estômago embrulhou diante da possibilidade dele não estar lá. Assim que avistei a plataforma, grudei a cabeça no vidro e procurei por todos os lados. 


Nada…


A porta abriu, e foi quando o vi – exatamente na minha frente. Dei três passos, e nos abraçamos. Não sabia se ria de alívio ou se chorava de saudades. Fiz os dois. 🙂



No dia seguinte, acordei doente – acho que foi a emoção, somada ao calor absurdo que fazia em Madrid. 


O Dudu trabalhava das nove da manhã às nove da noite. Tomávamos café da manhã, ele saia e eu voltava a dormir. Lá pelas duas da tarde, ia de metrô almoçar com ele. Voltava pro albergue e dormia até a hora do jantar. Cozinhávamos juntos e ficávamos acordados madrugada adentro.


Tentava não pensar que logo nos separaríamos outra vez, mas era impossível. No meio de uma risada, de um beijo, de uma conversa – quando meu coração explodia de felicidade -, lembrava de quantos dias ainda nos restavam. Nessas horas, era difícil me convencer do motivo de estarmos longe, quando estar perto parecia fazer muito mais sentido…


Mais pro final da semana, melhorei da gripe. Mas não queria fazer passeios turísticos. Ia pro lugar que o Dudu trabalhava e ficava embaixo de uma árvore – lendo, tirando fotos, observando o movimento… Só estar perto dele já me deixava feliz. Sempre que sobrava um tempinho, ele vinha me ver e íamos juntos tomar um café. 

Madrid foi o Dudu. E era exatamente isso que eu queria.










Não lembro bem quando foi que o outono chegou, mas veio com tudo. Derrubando as folhas, bagunçando cabelos e roubando meu coração. Não sei como vivi até hoje sem os encantos da estação marrom – que, por mim, poderia durar mais uns três meses.

As fotos são do parque atrás de casa. Esqueci de mencionar que lá tem um castelinho. 🙂

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