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  • 21 de jan. de 2019

Quando a ideia surgiu, foi difícil apontar o autor – minha mãe comentou na mesma semana que eu e o Dudu conversamos sobre. Era basicamente essa: “que tal se morássemos na edícula da casa dos meus pais?”. Lá já tinha sido muitas coisas, – inclusive fábrica de biscoitos – mas, ultimamente, só servia pra acumular sujeira…

Logo de cara, me apaixonei pela possibilidade.


Há três anos eu e Dudu morávamos num apartamento pequeno, sem sacada e área de serviço – e com uma cachorrinha cheia de energia. Voltar para uma casa estava na minha lista de desejos mais desejados. Melhor ainda num lugar que amo e perto da minha família, com quem nos damos super bem.


Mas uma questão me perseguia: “será que devo voltar pra casa dos meus pais?”. Apesar de ser uma construção separada, com entrada independente, me perguntava o que esse retorno implicaria. Será que conseguiríamos estar perto sem tirar nossa liberdade? Será eu conseguiria me firmar como mulher sem escorregar pro papel de filha? Será que conseguiríamos estabelecer limites suaves e conviver como dois núcleos familiares distintos?


Mas, não importava o quanto eu questionasse, a imagem de morar naquela edícula enchia meu coração de alegria… Dois anos se passaram de conversas, sonhos e reflexões. Chegamos à conclusão que seria necessária uma adaptação de todos – mas que poderia ser uma experiência maravilhosa.


Até que, em 2016, meus pais decidiram reformar a casa da frente e aproveitamos para reformar a edícula também. O Dudu fez os projetos de arquitetura e pensamos em cada detalhe com muito amor e entusiasmo. Dormíamos e acordávamos falando sobre a nossa casinha – que já parecia pronta em nossos corações.


Mas na prática não foi bem assim: o que era para ser uma simples obra virou um obrão. Três meses se estenderam por um ano de muito barulho, sujeira, decisões, entra e sai de pedreiros e gastos intermináveis. Descobrimos que obras são assim mesmo, mas na hora eu só queria gritar “chega!” e mandar todo mundo embora.


Em julho fez dois anos que moramos aqui – e não passa um dia que eu não suspire de amor por essa casinha. Algumas vezes tive que pedir pros meus pais não gritarem meu nome lá da outra casa, ou aparecerem na janela de surpresa – e algumas vezes eles tiveram que nos pedir para catar os cocôs das cachorras na grama, ou lavar a lata de lixo que compartilhamos. Mas, muitas mais vezes, batemos papo no jardim, dividimos uma refeição, trocamos favores, comidas, sorrisos e delicadezas.


Morar perto é sim um desafio, mas daqueles bons de se superar.

 
  • 21 de set. de 2018

Hoje amanheceu diferente. As janelas estavam embaçadas como de costume e o orvalho cobria a grama do jardim – mas havia novidade no ar. Assim que o sol cruzou o muro e os passarinhos cantaram alvoroçados, tive certeza: a primavera está chegando!


De repente, quis sair de casa, encontrar pessoas, escrever pro blog e responder mensagens atrasadas no Whatsapp. Toda essa expansão clareou o motivo de tanta introspecção nos meses passados: era inverno. Ufa! Já estava preocupada me achando anti-social e ensimesmada demais…


Me perdoei por ter desmarcado compromissos, fugido de viagens e desejado com tanta força meu sofá. Conversas me cansavam e só queria ficar quietinha em casa com o Dudu. Até excluí o Instagram! Parecia que o mundo lá fora não cabia em mim – já estava saturada por processos internos.


Não foi um inverno fácil. Passar tanto tempo com qualquer pessoa é um desafio – principalmente quando essa pessoa é você mesma. Mergulhei demais em mim e, mais uma vez, encontrei o que se esconde lá no fundo. Momentos de autodesenvolvimento são sempre positivos, mas cansei! Estou feliz de perceber que foi só uma fase – e ansiosa por mudar de estação!


(a julgar pelas vezes que nosso sofá aparece nas fotos, dá pra imaginar onde passamos grande parte do inverno…)

 
  • 9 de mai. de 2018

Entre tosses e espirros, minha mãe vem checar como estou. Assoo o nariz e respondo que mais ou menos: o corpo dói a cabeça lateja e a garganta arranha. “Filha, tá tudo bem?”. “Médio, mãe, mas amanhã estarei 100%”. “Não isso, filha”, ela insiste, “tem alguma coisa te incomodando?”.


Mães têm esse poder de enxergar lá dentro – e, com essa pergunta, desabo num choro que nem sabia guardar. “Ando tão preocupada, mãe…”, respondo entre lágrimas e soluços. Desato a falar da pressão de ser sempre mais: de conquistar mais, de fazer mais, de ganhar mais dinheiro, de estudar mais, de viajar mais. “Mas quem está te pressionando?”, me pergunta num abraço. “Acho que eu mesma…”.


Meu pai chega e questiona o que falta na minha vida. “Não sei, pai. Tenho um trabalho que me faz feliz, uma casa que amo, um companheiro que me completa, minha família por perto, mas parece que deveria ter mais…”. “Então vai atrás de mais”, ele instiga – com aquele poder que pais têm de ir direto ao ponto. “Mas o problema é que não quero mais!”.


Eis que as nuvens se dissipam e percebo um padrão antigo: uma cobrança interna, desmedida e descabida – da criança que apagava a letra torta até a folha rasgar, da adolescente que não aceitava menos que nota nove, da adulta com medo de ser acomodada. “Tenho tudo que quero, mas não consigo aproveitar por achar que devo querer mais…”.


Mas ser acomodada é bem diferente de ser contente. E, nesse momento, eu sou contente! Talvez um dia deseje viajar mais, abrir meu próprio negócio, ganhar mais dinheiro – e, quando esse dia chegar, vou fazer o possível para que meu sonho se realize. Mas, nesse momento, já estou vivendo meu sonho – que não me fez rica nem famosa, mas muito feliz….


Por agora, quero continuar trabalhando com prazer, estudar os livros que comprei, escrever quando as palavras transbordarem, passear com minhas cachorras, cozinhar ouvindo música, cuidar da minha casa, encontrar amigos, dançar no tapete da sala, rir com minhas irmãs, conversar com meus pais e amar meu companheiro.


E quero fazer tudo isso com leveza e bom humor. Quero aceitar que tenho o suficiente pro momento e curtir o que já conquistei. Quero confiar no curso da vida – sabendo que me esforçarei para alcançar o que for. Quero pensar no futuro, mas não me preocupar com o que não chegou. E quero não precisar ficar doente para lembrar disso tudo…


“A vida é boa, filha”, finaliza meu pai com um sorriso.

É mesmo, pai.

 
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