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Abrir a janela e ver o sol é a melhor maneira de começar meu dia. Vibro diante das possibilidades de um céu azul. E é por isso que tive dificuldade em lidar com as últimas semanas nubladas… Ainda na cama escuto o barulho da chuva e torço para ser apenas um sonho.

A verdade é que 2015 não tem sido fácil. Há quase um ano travei uma batalha comigo mesma – e a luta vem se extendendo por mais tempo que gostaria. Em alguns dias, sou a grande vencedora: feliz, completa e presente. Em outros, perco pra ansiedade e recuo diante dos medos e cobranças.

Tenho tentado encarar essa temporada cinza como um teste. Encontrar a positividade nos dias ruins é como ter certeza que o sol está acima das nuvens. É questão de olhar por outro ângulo. Muitas vezes o lado bom da vida é encoberto pela nossa própria sombra – e, enquanto não conseguimos acessá-lo, o jeito é dançar na chuva.

As fotos são de um dos muitos dias cinzas – e lindos! – que vem fazendo em Florianópolis.

A semana passada foi cheia de responsabilidades. Muitas vezes tive que me lembrar de não morder os lábios, de relaxar as mãos e soltar o ar preso nos pulmões. Aprender a lidar com a ansiedade é uma meta que, infelizmente, ainda não alcancei… Quando ela chega, perco a fome, tenho insônia e vivo cansada.

E foi por isso que no sábado de manhã, dormi profundamente na praia. Estava frio e chuvoso, mas o Dudu queria tanto surfar que ignoramos o mau tempo. Enquanto ele se aventurava na água gelada, me enrolei numa toalha e fiz um travesseiro de areia. Desliguei de tudo e tive belos sonhos embalados pelo som das ondas.

No domingo fomos presenteados com um dia maravilhoso – depois de semanas nubladas em Florianópolis. Se a chuva lava a alma, o sol enche de luz: eu estava radiante! Passamos a manhã num dos meus lugares preferidos. Subi correndo pelas dunas, desci rolando com a Matilda e molhei os pés na lagoa. 🙂

A 20 minutos dos 28 anos, sento no jardim da casa dos meus pais e encaro o céu nublado. Minha irmã havia pedido que dormisse lá para cantarmos parabéns logo cedo – uma tradição de família. No andar de cima todos estavam deitados, mas uma inquietude me chamou pro lado de fora.

As nuvens baixas refletiam as luzes da cidade, pintando o céu de cor de laranja, e o vento era morno, como o que vem do mar num fim de tarde de verão. Olho em volta à procura do que me trouxe até ali. As árvores balançando, a luz do vizinho acesa, a grama molhada – não me diziam nada.

Ainda inquieta, cogito voltar pra cama, quando eles me vêm à cabeça: minha mãe e meu pai.

Em 11 de outubro de 1987, eu nasci – e eles nasceram “pais”. Nem consigo imaginar o quanto a vida deles mudou naquele dia: eles me deram a vida e assistiram à sua se transformar. Abraçaram de corpo e alma a tarefa de me amar e me cuidar. Todos os dias e para sempre.

Ainda hoje, eles são a voz que me acalma, o abraço que me cura e a presença que me dá a coragem de ser quem sou. Meu corpo tremeu diante da força de tudo que fizeram, e fazem, por mim. Devo a eles a felicidade pura da infância, o gostinho de liberdade da adolescência e o prazer de me tornar adulta. Sem meus pais eu não estaria aqui.

Minha mãe diz que sempre vai me amar mais do que amo ela e, pela primeira vez, eu acreditei. O que sinto por eles ele é imenso, mas naquele momento entendi que nada se compara ao sentimento de um pai por um filho. Questionei o que fiz pra merecer tamanho amor e dedicação – e chorei lágrimas de gratidão.

E então, ao lado dos meus pais, estavam minhas irmãs. Sorri com ternura e as agradeci por terem escolhido a nossa família: a família em que eu seria sua irmã mais velha. Agradeci por estarem ao meu lado e por serem muito mais que irmãs – serem minhas melhores e eternas amigas.

Ainda chorando, agradeci ao Dudu por ter me encontrado e por ter se entregado de maneira que nossa conexão fosse tão forte. Agradeci por simplesmente compartilhar sua vida comigo e receber a minha em troca. Por último, agradeci à Matilda – que lambia as lágrimas da minha perna – por me trazer tanta alegria.

Uma chuva fina começou a cair e eu abri os braços para o céu. O relógio marcava meia noite e eu tinha oficialmente 28 anos. O recado estava dado: eles são o presente que a vida me deu. O maior, o melhor e o mais verdadeiro.

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