A 20 minutos dos 28 anos, sento no jardim da casa dos meus pais e encaro o céu nublado. Minha irmã havia pedido que dormisse lá para cantarmos parabéns logo cedo – uma tradição de família. No andar de cima todos estavam deitados, mas uma inquietude me chamou pro lado de fora.
As nuvens baixas refletiam as luzes da cidade, pintando o céu de cor de laranja, e o vento era morno, como o que vem do mar num fim de tarde de verão. Olho em volta à procura do que me trouxe até ali. As árvores balançando, a luz do vizinho acesa, a grama molhada – não me diziam nada.
Ainda inquieta, cogito voltar pra cama, quando eles me vêm à cabeça: minha mãe e meu pai.
Em 11 de outubro de 1987, eu nasci – e eles nasceram “pais”. Nem consigo imaginar o quanto a vida deles mudou naquele dia: eles me deram a vida e assistiram à sua se transformar. Abraçaram de corpo e alma a tarefa de me amar e me cuidar. Todos os dias e para sempre.
Ainda hoje, eles são a voz que me acalma, o abraço que me cura e a presença que me dá a coragem de ser quem sou. Meu corpo tremeu diante da força de tudo que fizeram, e fazem, por mim. Devo a eles a felicidade pura da infância, o gostinho de liberdade da adolescência e o prazer de me tornar adulta. Sem meus pais eu não estaria aqui.
Minha mãe diz que sempre vai me amar mais do que amo ela e, pela primeira vez, eu acreditei. O que sinto por eles ele é imenso, mas naquele momento entendi que nada se compara ao sentimento de um pai por um filho. Questionei o que fiz pra merecer tamanho amor e dedicação – e chorei lágrimas de gratidão.
E então, ao lado dos meus pais, estavam minhas irmãs. Sorri com ternura e as agradeci por terem escolhido a nossa família: a família em que eu seria sua irmã mais velha. Agradeci por estarem ao meu lado e por serem muito mais que irmãs – serem minhas melhores e eternas amigas.
Ainda chorando, agradeci ao Dudu por ter me encontrado e por ter se entregado de maneira que nossa conexão fosse tão forte. Agradeci por simplesmente compartilhar sua vida comigo e receber a minha em troca. Por último, agradeci à Matilda – que lambia as lágrimas da minha perna – por me trazer tanta alegria.
Uma chuva fina começou a cair e eu abri os braços para o céu. O relógio marcava meia noite e eu tinha oficialmente 28 anos. O recado estava dado: eles são o presente que a vida me deu. O maior, o melhor e o mais verdadeiro.