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  • 22 de jul. de 2016

Tropeço no varal a caminho da janela – na ausência de lavanderia, as roupas secam no quarto, num espaço apertado entre a cama e o armário. Na cozinha, preparo o café em cima da máquina de lavar roupa e, no box, tomo banho rodeada de baldes, esponjas e panos de chão.


No meio da tarde, o sol que entra é tão forte que me pergunto se trabalhar em casa foi mesmo uma boa ideia. À noite, o cheiro de fritura do vizinho sobe pelo fosso e, de madrugada, rolo na cama insone pelo barulho da avenida. Mas nada é mais provocador que o forno – que apaga sozinho, destruindo receitas e testando nossa paciência.


Estamos de mudança, e, se um dia desejei sair desse apartamento, hoje só consigo pensar no quanto ele me fez feliz. Essa manhã me dei conta que nunca mais vou morar aqui e me arrependi de ter reclamado de problemas tão pequenos.


Peguei a câmera e registrei cada cantinho, enquanto chorava de culpa e saudades.

Aqui vivemos momentos maravilhosos, mas são os mais simples que não quero esquecer: o beijo que o Dudu me dá antes de ir trabalhar; as danças no meio da manhã com a Matilda; o almoço que cozinho sozinha, orgulhosa da minha evolução; os jantares que preparamos juntos, bebendo vinho e ouvindo música; o dia que termina com nós três dormindo no sofá.


Quando mudamos pra cá, apelidamos esse apartamento de ovinho, por ser todo branco e muito apertado. Hoje as paredes estão cheias de cores, e as lembranças são tantas que os cômodos parecem enormes. Sempre soubemos que seria temporário, mas é impossível não sentir a dor da despedida. Esse sempre será o nosso primeiro lar.

Adorei relembrar algumas das últimas mudanças: aqui, aqui, aqui e aqui.

 
  • 8 de jun. de 2016

(coletânea de fotos das últimas manhãs de sábado)

Acordo com o peso da Matilda no cobertor. Mesmo aos sábados, o Dudu sai cedo da cama, mas ela fica ali – esperando eu levantar. Assim que abro os olhos, se arrasta até mim para lamber meu rosto. Faço carinho em sua barriga e curtimos juntas mais alguns minutos de preguiça.


O Dudu serve minha xícara de café e me entrega com um beijo. Na cozinha, preparo tapioca, ovo, suco, ou o que der vontade – enquanto ele lava a louça acumulada. Colocamos música e não demora para eu começar a dançar. Seguimos a arrumação rindo dos meus movimentos improvisados.


Raramente comemos na mesa: o Dudu gosta de passear pelos cômodos e eu de sentar no tapete onde bate sol. Já a Matilda continua seu sono no sofá. Lemos revistas, mexemos no celular, ou terminamos o filme da noite anterior. No sábado de manhã tem o que quisermos, menos mau humor.


Não sei por que gosto tanto dessas poucas horas em que fazemos nada – mas um nada que é o bastante. Talvez seja a paz, o aconchego e a sensação de ter tudo que preciso. Não importa o que acontece no fim de semana, é sempre difícil superar a delícia das manhãs de sábado.

 
  • 1 de jun. de 2016

Assim que estacionei na garagem do prédio, uma música que gosto tocou no rádio. Sem pensar, desliguei o carro e aumentei o som. Cantei sozinha, bem alto e desafinada, com os olhos fechados e as mãos dançando no ar. Senti cada nota vibrar dentro de mim. Não existia tempo nem espaço, só sensações – e eram deliciosas.


Maio foi assim: repleto de momentos tão insignificantes quanto especiais. O Dudu está no fim do mestrado e por isso quase não saímos de casa. Achei que sentiria falta dos passeios, mas descobri que a cozinha guarda tantas aventuras quanto uma trilha inexplorada – e que quando acabam as receitas, ainda tenho as lãs, os livros e os filmes para desbravar.


Em maio, lembrei que a felicidade está a um pensamento de distância: aquele em que escolho ser feliz. Parece simples e óbvio, mas nem sempre é. Ser feliz é uma escolha que demanda vontade, desprendimento e confiança – e nesse último ainda tenho bastante que trabalhar.


Às vezes é difícil confiar na vida quando há injustiça, doença, violência e tragédia. Sei que minha felicidade não resolve os problemas do mundo, nem me livra dos meus – mas também sei que é a melhor versão de mim que posso oferecer, a mim e aos outros. Afinal, ser feliz não é ser acomodado, é ter ainda mais forças para lutar.


Em maio, perdi a conta de quantas vezes espantei a raiva e o medo apenas com um pensamento positivo. Mesmo quando a realidade é difícil – e as notícias, apavorantes -, o caminho do bem continua dentro de nós. Os desafios sempre existirão, basta escolher como enfrentá-los. Eu prefiro sorrindo.

 
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